Experiências vivenciadas com alunos especiais na Educação física escolar: um estudo de caso

FARIAS, B.S

NUNES, A.H.F

SANTOS, A.D.A

SOUZA, C.R.T

 Palavras-chave

Educação Física escolar; PIBID; Experiências.

 

Introdução

O estudo tem como finalidade expor as experiências das acadêmicas da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul –CPAN que realizam intervenções na escola de rede pública da cidade de Corumbá MS, com alunos especiais na educação física escolar, incorporando a educação infantil e o ensino fundamental I.

No decorrer das intervenções foi observado o comportamento de dois alunos especiais de séries diferentes, 2° e 4°serie. Além do desenvolvimento das práticas proporcionadas e a relação afetiva dos demais alunos, influenciando a participação dos alunos especiais nas aulas de educação física.

Dessa forma, viemos por meio desse estudo, relatar como esse processo foi desenvolvido no âmbito escolar com os alunos portadores de necessidades especiais durante as intervenções. Desde os planejamentos das intervenções, até o momento da execução das atividades pelos alunos e a relação professor-aluno no decorrer das práticas exercidas.

 

Metodologia

Utilizando o referencial bibliográfico e experiências das autoras, participantes do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência – PIBID que tem por objetivo incluir acadêmicos graduandos em cursos de licenciatura para iniciarem sua formação profissional como docentes.

No programa citado, as acadêmicas da UFMS-CPAN realizaram intervenções de 2 horas semanais com turmas da 2° série e 4° serie em períodos distintos. Para coordenarem as intervenções, é direcionado um professor supervisor que atua na instituição escolar e que atua nas mesmas turmas onde as acadêmicas realizam tais intervenções. Dessa forma as aulas precisam ser supervisionadas pelo professor efetivo sempre que possível.

 

Desenvolvimento

 

O planejamento pedagógico das pibidianas para a inclusão dos alunos portadores de necessidades especiais na escola supracitada

Nesse processo, as pibidianas precisam fazer o reconhecimento dos alunos em geral, tanto da turma como dos alunos especiais que estão incluídos na turma e das condições que os mesmos se encontram, além das relações sociais demonstraram durante as intervenções.

De uma turma com 20-25 alunos, apenas 1 aluno apresenta uma necessidade especial. Dessa forma, as professoras pibidianas, tiverem que se reorganizarem, de modo a incluírem o aluno portador de necessidade especial nas aulas de educação física. Todas as aulas foram planejadas com muita cautela para a participação do aluno. Para resguardar a identidade do mesmo, iremos chamá-lo de “JB”.

JB é aluno da primeira turma que trabalhamos pelo PIBID. Foi realizada intervenções na 4°série a qual ele pertencia no período que atuamos como professoras de educação física.O aluno foi diagnosticado com Autismo ou Transtorno do Espectro Autista-  TEA.Não foi apresentado para nós pibidianas nenhum protocolo médico ou exame, fomos apenas comunicadas sobre a limitação do JB para as práticas que seriam realizadas com a turma.

Após realizarmos a monitoria na turma do JB, foi pensado nas atividades que possivelmente dariam certo por conta da sua limitação motora e cognitiva, tais como dificuldade em se equilibrar, de se manter ereto por períodos longos, de assimilação e compreensão de comandos dos professores, dificuldade em erguer os membros quando solicitado, dificuldade em manipulação de objetos, perda de concentração, dentre outros.

Entretanto, tivemos o cuidado na escola das atividades, para que o JB pudesse participar coletivamente, mantendo a boa relação com a turma.  É de suma importância que o aluno participe pelo menos de uma das atividades propostas pelas professoras. Todo planejamento deverá ser organizado conforme a necessidade do aluno, mesmo que a turma esteja mais adiantada. Pois é essencial a participação do aluno especial. Para que isso seja efetivado, devemos diminuir o nível de dificuldade dos conteúdos ministrados em sala, para que o aluno possa acompanhar com mais facilidade.

Em nosso primeiro contato com o JB e sua turma, fizemos a apresentação do conteúdo que seria trabalhado com eles durante as intervenções. Nosso conteúdo escolhido nesse período foi Esquema Corporal, com o objetivo de proporcionar aos alunos o conhecimento mais amplo do próprio corpo, além de possibilitar uma melhor relação afetiva entre eles. N tentativa de melhorar o comportamento do JB, que necessita de atenção especial no quesito motor e cognitivo.

Após a apresentação do conteúdo, colocamos os alunos em roda, dando início a um alongamento. Tivemos que nos dividir para observar e ajudar os alunos com o primeiro momento da aula. Como éramos cinco educadores, sendo três pibidianas, um professor efetivo (supervisor) e a acompanhante do JB (a professora que o acompanha no período letivo nas atividades práticas e teóricas dentro da escola). Uma pibidiana ficou responsável em ajudar o JB com o professor supervisor, a outra comandava a turma e a última auxiliava, mantendo as crianças na roda e ajudando-as quando apresentavam dificuldades no decorrer da aula.

Pedimos que a professora acompanhante deixasse o JB sob nossa supervisão, para que pudéssemos ter um momento com ele a sós, afim de começar a criar um vínculo mais afetivo com ele.  Durante esse primeiro contato, foi observado que o JB apresentou dificuldades, que procuramos solucionar durante cada exercício.

Realizamos o máximo de alongamentos possíveis com o JB, porem foi pensado na necessidade de buscar outros meios para alongar o JB, já que os alongamentos que aplicamos, não foi possível de realizar conforme esperávamos. Porém, observamos no decorrer da aula, que o JB mostrou interesse em músicas. Contudo, concordamos em acrescentar música em todas as atividades se possível, para estimular a participação do JB.

Dessa forma, incluímos a atividade – Escravos de Jo, para que houvesse a interação geral da turma e o resultado foi melhor do que esperávamos.

Os alunos permaneceram em roda e iniciamos a canção, todos cantavam e andavam para realizarem os movimentos de acordo com a música. Durante a atividade, JB demonstrou alegria com movimentos repetitivos com as mãos e com o sorriso no rosto. Todos estavam se divertindo e participando da atividade coletivamente. A turma acolhe muito bem o aluno especial, mantiveram o JB incluído na atividade o tempo todo, tornando mais fácil a nossa intervenção.

No terceiro momento da aula, optamos pela atividade – Pula sela, na qual não obtivemos resultados significativos. A brincadeira não foi adaptada de forma a incluir o JB, não trabalhamos na performance das habilidades motoras básicas do aluno. Após o feedback da atividade, deveríamos ter pensado em aplicar atividades que pudessem contribuir na melhoria das habilidades básicas, como saltar, andar, correr, etc. Antes de aplicar a atividade com um grau de dificuldade avançado para o JB.  Ou seja, é essencial começar com pequenas ações, dando ênfase nas habilidades motoras básicas do indivíduo.

Apesar de a brincadeira não ter sido realizada da forma como esperamos, analisamos o incentivo que os demais alunos dão ao JB, ajudando-o a concluir a tarefa dada. Fizemos apenas uma rodada do pula-sela e passamos para a penúltima atividade do dia. Escolhemos o Pique-corrente.

Com essa atividade foi apresentado o trabalho em equipe, pois a turma interagiu bastante com o JB. Dando assim, um resultado positivo na escolha da atividade. Apesar do bom comportamento do JB e da turma e da relação que se estabeleceu na atividade, temos que respeitar as limitações do aluno. JB apesar de cansar com muita rapidez, participou ativamente das atividades propostas. Apresentando entusiasmo e dedicação, mesmo com as suas limitações.

Contudo, as pibidianas destacaram que a corrida e as canções são pontos de partida para outras possibilidades de se trabalhar com alunos autistas, como JB, que não apresenta comportamento agressivo, não é intolerante ao toque ou ao barulho.  Deixando claro, a importância de respeitar as condições, limitações, interesses e gostos de cada um. Para que dessa forma facilite a interação deles nas intervenções, contendo diversão, cores e músicas. Estar sempre em movimento e ser repetitiva em seus comandos.

A experiência que tivemos posteriormente, em outra classe, em um outro período, só foi possível graças ao aluno JB, portador da síndrome de Joubert, que nos fez aprender e ensinar. Apesar de serem alunos distintos e de classes diferentes, ambos foram extremamente especiais para nós.

O J2 conseguia participar das aulas de educação física quase que com total autonomia, apresentando dificuldade na sala, essa que com o passar do tempo passamos a compreender melhor e em determinadas atividades com grau de complexidade mais elevado era preciso que alguém o auxiliasse. Como fazíamos as intervenções em três pibidianas, uma sempre ficava responsável por ajuda-lo sempre que fosse necessário.

O aluno tinha um interesse particular pelo futebol, podemos perceber isso pois o mesmo sempre pedia pelo esporte nas aulas de educação física, em uma de nossas intervenções optamos por usar esse conteúdo com a turma, utilizando-o como instrumento para atingir nossos objetivos de aula. Priorizamos o desenvolvendo das capacidades locomotoras, manipulativas, cognitivas e afetivas, devido a faixa etária em que a turma se encontrava.

Sabemos que em apenas uma aula isso não seria possível, mas desenvolvendo atividades gradualmente e sequencialmente nos ajudou durante as nossas intervenções.

A ginástica como componente curricular da educação física, também nos instrumentalizou para atingir esses objetivos, então optamos por dividir o nosso cronograma com os alunos com intervenções sobre o conteúdo de ginástica e sobre o futebol.

Conseguimos identificar que o J2 se destacava mais quando o assunto era futebol, possuía mais autonomia durante o jogo, mas ainda que não fosse de seu domínio, assim como não era de domínio de nenhum outro aluno da turma, se dedicava para participar das aulas cujo o conteúdo era a ginástica. O lúdico sempre esteve presente durante esse conteúdo, utilizamos bastante da expressão corporal e imaginação dos alunos durante as aulas, brincadeiras envolvendo histórias contadas, animais e o imaginário foram essenciais para que nossos objetivos fossem atingidos

 

Considerações Finais

Contudo, as dificuldades, dúvidas e incertezas fizeram parte de todo esse processo e o PIBID, foi fundamental para esse nosso desenvolvimento pedagógico, já que se não fosse pelo programa não teríamos a oportunidade de conhecer e trabalhar com esses alunos e com nenhum outro, uma vez que ingressamos no programa antes de iniciar a nossa disciplina de estágio. Ter a oportunidade de trabalhar com essas turmas, nos fez aprender e evoluir, contribuindo para a nossa formação profissional.

Além do apoio que tivemos de outros profissionais, como os professores supervisores, as professoras auxiliares e a nossa professora coordenadora do pibid que tornaram esse estudo possível.