Observação da germinação de Angiospermas no Ensino Fundamental

Universidade Federal do Mato Grosso do Sul – CPTL

CADAMURO, R. D.

REBUSTINI, M. E.

Palavras-chave

Angiosperma, Ensino Fundamental, Botânica.

 

Introdução:

Ao longo do ensino fundamental, no ensino público, raramente são citadas as Angiospermas e suas respectivas divisões, tornando este um tema exclusivo do ensino médio, dificultando assim sua assimilação eficaz. Os indivíduos representantes deste grupo têm importância econômica, farmacêutica, alimentar, ecológica entre outros. Explorar a compreensão do papel deste grupo em nosso planeta é essencial na formação de alunos conscientes do mundo ao seu redor. Este tema possui praticidade pois estão presentes na rotina e cotidiano de todo ser humano. O processo educacional se apresenta como um longo e gradual processo sócio construtivista onde o aluno conecta diversos conceitos e informações tratados ao longo dos anos. (CACHAPUZ, et al 2004.)

Zabala defende que atividades ou tarefas tradicionais são insuficientes na análise de diferentes estilos pedagógicos, sendo necessário ampliar tal unidade elementar e identificar como nova unidade de análise, todo tipo de sequência de atividade ou sequencia didática que inclua as fases de planejamento, aplicação e avaliação. (ZABALA et al.)

Vygotsky e Paulo Freire concordam que o processo de aprendizagem deve convergir para o desenvolvimento integral do aluno, independente do contexto social. Tal integralidade é construída operando mais do que somente aulas conceituais, mas sim estimulando raciocínio crítico, o pensar social sobre si e o contexto em que se encontra. (JOFILI, 2002.)

Desta forma uma solução seria abordar os temas referentes às Angiospermas de forma introdutória durante o ensino fundamental, para que no ensino médio haja um aprofundamento do assunto. Uma abordagem unicamente expositiva poderia não proporcionar a melhor compreensão do tema, mas aliado à uma atividade de ensino ativo seria obtido um melhor resultado. De acordo com Kolb (1984, p. 38) o conhecimento é gerado a partir de transformações de vivências do indivíduo. Partindo deste princípio foi realizada uma sequência didática onde o objetivo foi proporcionar uma experiência que gerasse conhecimentos empíricos aos alunos, produzindo uma aprendizagem ativa.

 

Justificativa:

Ao longo da graduação, foi evidenciado que a educação pública em nosso país, nunca foi prioridade, moldes de ensino importados de outras realidades e contextos são implantados no nosso país desde o período da monarquia. A visualização de tal situação se torna mais evidente quando o indivíduo entra em contato com diversas realidades do ensino público. Neste sentido, o Programa de Iniciação à docência viabiliza uma experiência de contato maior, onde pode-se afirmar com propriedade a falta de iniciativa, detalhamento e abordagens alternativas em salas de aula. Uma das ferramentas utilizadas para otimizar a introdução de temas aos alunos são as sequências didáticas, onde é possível adaptar práticas ou trabalhos afim de aprimorar e estimular o aprendizado ativo nos alunos.

Um exemplo de tema explorado neste trabalho na escola Padre João Tomes, é a divisão presente no grupo das Angiospermas, envolvendo as eudicotiledôneas e monocotiledôneas. A sequência realizada junto aos sextos anos envolveu aplicação de uma prática pelos alunos e um debate utilizando dados relatados pelos educandos, que teve como objetivo a construção de conceitos e introdução do tema e suas divisões até então não apresentados em aulas. Quão mais contextualizado o assunto maior foi a compreensão e a capacidade de relacionar deles, há necessidade de diluir a abstração, tornar conceitos, definições e conhecimentos o mais prático possível.

 

Referencial teórico:

De acordo com Marcovitch (2001) os saberes instruídos pelo conhecimento teoricamente deveriam ser, em sua maioria, diluídos em disciplinas que apresentam inter-relações. O autor afirma três principais desafios envolvidos no agregar de tais disciplinas. O primeiro seria a capacidade de lidar com o global, onde é essencial a formação de um arranjo que contemple dimensões culturais, científicas e sociais. O segundo se apresenta como a complexidade inerente no processo de métodos de ensino e aprendizagem. O último deles relaciona a discordância que ocorre entre as linguagens presentes no contexto escolar.

Boff e Silva (2016) estudando os livros didáticos, quanto ao ensino de botânica, observaram que estes focam apenas em figuras e alguns poucos textos para promoção da aprendizagem. Os autores observaram que mesmo os grupos taxonômicos botânicos mais utilizados pelo ser humano, como as Angiospermas, são tratados de maneira superficial, considerando ainda as constantes mudanças que ocorrem na biologia, as quais não são acompanhadas pelos livros didáticos.

Os estudos científicos da Neurociência sobre as atividades cerebrais, mostram a plasticidade do cérebro. Observa-se que as dificuldades referentes a aprendizagem podem ser redirecionadas, levando-se em conta a razão desta dificuldade, se física que necessita tratamento ou se extrínseca que pode ser alterada com atividades escolares atrativas para os alunos (Relvas, 2015, p 58).

Considerando-se estes fatores, as sequencias didáticas apresentadas por Zabala (1998) vieram para auxiliar na solução destes problemas, principalmente ao que se refere a temas complexos, tratados apenas com aulas convencionais, como é o caso das monocotiledôneas e eudicotiledôneas estudadas neste projeto.

Para Vygotsky a interação social é uma das ferramentas que mais vem a auxiliar o aluno, tal interação se mostra presente por exemplo dentro da escola, dentro das salas de aulas e na comunidade. Toda atividade dentro da escola pode e deve proporcionar uma construção de conhecimentos, podendo agir de variadas maneiras. As interações horizontais viabilizam o instigar de senso crítico e dialéticas. Estas interações defendidas por Vygotsky compreendem o ato de promoção de discussões realizadas pelo professor em sala de aula, discussões estas onde os alunos discutem entre eles. A nomeação interações horizontais se deve justamente a discussão realizada entre iguais, protegendo a dialética de qualquer argumento de autoridade, que claramente não é bem-vindo em circunstância alguma de conhecimento, sendo apenas guiada e orientada pelo promotor de tal circunstância, ou seja, o educador.

 

Objetivos:

  • Propor meios que propiciem ao aluno a construção do seu conhecimento empírico e científico sobre as divisões de monocotiledôneas e eudicotiledôneas pertencentes ao grupo das Angiospermas. Compreensões de fisiologia e sistemática por meio de atividades práticas, explorando a inter-relação presente na botânica
  • Sugestão de instrumento pedagógico ao professor para utilização em estudos das divisões monocotiledôneas e eudicotiledôneas

 

Desenvolvimento da Atividade:

A sequência didática propunha que cada aluno do sexto A e B plantasse três grãos de feijão, um em cada ambiente, sendo um deles totalmente escuro, outro sob a sombra e outro com exposição total ao sol. Foi orientado que fosse realizado um relatório constando o desenvolvimento das plantas a cada dia, identificando a progressão do desenvolvimento das três situações dos grãos, sendo este relatório uma forma de avaliação. Ao observar a germinação do feijão e a presença dos cotilédones foi proposto que levassem seus relatórios e brotos dos vegetais para a aula, onde foi feito uma exposição de informações e debate utilizando conhecimentos adquiridos pelos alunos.

Os cotilédones são folhas embrionárias, uma das características que norteiam a divisão entre monocotiledôneas e eudicotiledôneas. As plantas que apresentam dois cotilédones como o caso do feijão pertencem ao grupo das eudicotiledôneas, o grupo que apresenta apenas um cotilédone pertence ao grupo das monocotiledôneas, que é o caso do milho. A variação de luminosidade permitiu demonstrar aos alunos a necessidade de luz para fotossíntese e a reação dos cotilédones à falta de luz, conforme o grau de escuridão ocorria o processo de estiolamento, que é a falta de pigmentação da folha e crescimento anômalo da folha. (Taiz e Zeiger, 2004).

Após o experimento ter sido realizado ocorreu uma aula expositiva utilizando as informações dos experimentos dos alunos em sala de aula e por fim um questionário com cinco questões afim de avaliar a compreensão e correlação do conhecimento empírico e científico dos alunos de ambas as séries, considerando que anterior a este questionário o relatório do experimento de cada aluno retratava uma avaliação das observações feitas por eles. Das cinco questões do questionário a última foi a que a maioria dos alunos apresentou confusão onde era necessário nomear as duas divisões presentes em Angiospermas. Esta situação era esperada pois tais termos não foram mencionados anteriormente em sala de aula e não são tão visíveis quanto o visualizar das folhas e sua necessidade de luz.

 

Avaliação Didática da Atividade Desenvolvida:

A partir dos relatórios e do questionário foi possível observar a efetividade da sequência didática realizada, pois nos relatórios todos observaram a diferença fisiológica gerada pela falta de luz e os cotilédones surgindo. No questionário pode-se notar que as questões que envolviam conceitos sobre função dos cotilédones e motivo do estiolamento nas folhas foram resolvidas, a questão que abordava nomenclatura de sistemática apresentou poucos acertos e muita confusão na escrita. Tal situação era esperada como dito no desenvolvimento da atividade.

Com relação ao debate realizado durante a aula expositiva e das avaliações foi possível observar o início da construção de um conhecimento que tem base em atividades do cotidiano, a assimilação dos conceitos propostos e correlação com exemplos rotineiros dos alunos, parte disto tudo gerado por um conhecimento empírico e outro por conhecimento científico exposto em aula.

 

Avaliação do Impacto da Atividade na Formação do Aluno:

A formação do docente partindo da utilização de sequências didáticas sem dúvida promove o enriquecimento tanto do professor que orienta as sequências como dos discentes. O Programa de Iniciação à Docência estimula uma formação de docentes voltados para o estímulo ao pensamento crítico, visualização de contexto social e político de cada escola e região. Utilizando-se de ferramentas como sequências didáticas e afins para manejar aulas com questionamentos.

 

Conclusão:

A aprendizagem ativa auxilia os alunos a perceberem e descobrirem o universo do conhecimento ao seu redor, o educador deve propor e guiar tais atividades afim de cooperar para a formação de cada indivíduo presente em sala de aula.

Desfrutar da organização no planejamento de aulas demonstra em sala de aula quão positivo é utilizar cada vez mais de métodos de organização em áreas diversas da vida. A sequência didática em questão foi eficaz como instrumento de ensino para o tema das Angiospermas no ensino fundamental, podendo ser utilizada por professores, explorando conceitos de fisiologia e sistemática, com exceção da nomenclatura das divisões, que podem não ter gerado conhecimento por variados motivos.

 

Referências Bibliográficas:

BOFF, P. B.; SILVA, R. C.  Estratégias de contextualização no ensino de botânica em livros didáticos de biologia.  Revista Intersaberes, 11(24): , ISSN: 1809, 2016

CACHAPUZ, A.; PRAIA, J.; JORGE, M. Da educação em ciência às orientações para o ensino das ciências: um repensar epistemológico. Ciênc. educ. (Bauru),  Bauru ,  v. 10, n. 3, p. 363-381,  Dec.  2004 .   Available from http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516- 73132004000300005&lng=en&nrm=iso  acesso:  12  Oct.  2017.  http://dx.doi.org/10.1590/S1516-73132004000300005

JOFILI, Z. Piaget, Vygotsky, Freire e a construção do conhecimento na escola. Dezembro 2002

KOLB, D. Experiential learning: experience as the source of learning and development. Englewood Cliffs: Prentice-Hall, 1984. 256 p

MARCOVITCH, J. A Educação e a construção do futuro. Revista de Educação e Informática – Acesso. FDE/GIP, N° 15, São Paulo, p. 44-48, dez. 2001.

RELVAS, M.P.  Neurociência e Transtornos de Aprendizagem: as múltiplas eficiências para uma educação inclusiva.  6ª edição, Wak Editora, Rio de Janeiro, RJ, 144 p., 2015.

TAIZ, L.; ZEIGER, E. Fisiologia vegetal 3 ed. Porto Alegre: Artmed, 2004

ZABALA, A. A Prática Educativa. Como ensinar. Tradução Ernani F. da F. Rosa. Porto Alegre: ARTMED, 1998.