Um resgate da cultura regional pantaneira com a dança catira e a releitura da imagem corporal expressa nos desenhos das crianças.

PEDAGOGIA/CPAQ

 FERREIRA A. S.

INGRID V. P. M.

OTTOBONI D. C.

JUNIOR O.T.

 RECALDE E.R.V.

SILVA A.L.G

 

RESUMO: O presente texto tem por objetivo o resgate da cultura pantaneira nas ações desenvolvidas no Projeto: Cultura Pantaneira no Chão da Escola. com o apoio da CAPES pelo Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID) no Curso de Pedagogia da UFMS/CPAQ em parceria com a Escola Estadual Professor Antônio Salústio Areias. Tratamos sobre a expressão corporal por meio da dança Catira, uma valorização dos conhecimentos que respeitam e preservam os costumes regionais. Buscamos em autores como SIGRIST (2000), NOGUEIRA (2002); LIMA (1954); VOGT (1980) entre outros que respaldam nossos estudos. As orientações para a pesquisa se dão nos encontros com a coordenadora de área Professora Ana Lúcia Gomes da Silva e os supervisores Professora Denair Ottoboni Maciel de Castro e Professor Orestes Toledo Junior. Elementos da diversidade pantaneira levaram-nos a optar pelos encaminhamentos da pesquisa qualitativa bibliográfica utilizando das atividades teóricas e práticas como ferramenta na ação/reflexão/ação. Os resultados nos apontam que a proposta despertou interesse nos alunos ao desenvolverem as releituras das imagens na representação da dança Catira. As ações do PIBID foram um pouco além das representações que a vasta cultura Pantaneira dispõe, conseguimos integrar conhecimentos da vida urbana e rural. Consideramos a realidade das crianças que moram nas fazendas da região e vem para a escola estudar todos os dias. Constatamos que muitas desconhecem a riqueza cultural em seus vários aspectos, tem sido uma viagem prazerosa para todos os envolvidos.

 

 

Palavras chave: PIBID, Cultura Pantaneira, Dança Catira.

 

 

 

Introdução

 

 

Conhecida desde o período colonial, a Catira ou Cateretê é uma dança rural, encontrada nas regiões do centro-oeste, sul e sudeste do brasil. Por ter um ritmo animado a dança foi incluída nas festas de São Benedito, São Gonçalo, São João, entre outras, sua origem é incerta, uns acreditam ser Africana, outros que tem origem espanhola e portuguesa. Borges (2009) apresenta em seus estudos as possíveis características que influenciaram cada um destes povos no desenvolvimento da catira, fazendo um apanhado histórico das contribuições tupi, lusitana, espanhola e africana.

A presença da dança Catira nas festas populares permite ao povo pantaneiro a reafirmação de suas crenças bem como a confirmação de valores que expressam a cultura de uma determinada região ao longo da história. São as relações tradicionais que vão passando de geração em geração. Durante as apresentações, os grupos executam movimentos onde os pares ou integrantes se posicionam de frente um para o outro permitindo cumprimentos. Segundo Vogt (1980), a cultura vive através daqueles que a usam, e ao ser utilizada ela se transforma.

Essa dança é expressão de um povo, uma manifestação folclórica cultural que cativa os olhos de quem assiste promovendo sensações prazerosas. A Dança está presente nas festas pantaneiras. Nos meses de maio a agosto, a Catira representa a devoção das famílias nas festas religiosas, mas também aparece em casamentos e batizados. Ao som artesanal da viola de cocho o ritmo proporciona  muita animação por utilizar de sapateados firmes e palmas, podem ser executadas por pares ou apenas por homens.

Estas características regionais são marcantes na dança Catira. Daí optarmos, por meio das ações desenvolvidas no PIBID/Pedagogia, a prestar homenagem ao nosso Pantanal Sul- mato-grossense, proporcionando um resgate da cultura local no chão da escola e para tal, não podíamos deixar de fora a gastronomia, aqui resumida à comida popular entre os boiadeiros: o arroz carreteiro.

A possibilidade de exercitar a docência na prática instigou-nos a buscar na dança mais sobre a cultura local e assim desenvolver um trabalho que por ora apresentamos neste texto. Aqui tratamos sobre a expressão corporal por meio da dança Catira, uma valorização dos conhecimentos que respeitam e preservam os costumes regionais na formação cultural das crianças da Escola Estadual Professor Antônio Salústio Areias. Convidamos a continuar conosco, deleitando-se com a leitura do nosso trabalho.

 

Encaminhamentos metodológicos: a dança catira nas ações com as crianças

 

As orientações para a pesquisa nas ações PIBID se dão nos encontros com a coordenadora de área Professora Ana Lúcia Gomes da Silva e na escola contamos com os supervisores: Professora Denair Ottoboni Maciel de Castro e Professor Orestes Toledo Junior. Elementos da diversidade pantaneira levaram-nos a optar pelos encaminhamentos da pesquisa qualitativa bibliográfica utilizando das atividades teóricas e práticas como ferramenta na ação/reflexão/ação. Buscamos em autores como SIGRIST (2000), NOGUEIRA (2002); LIMA (1954); VOGT (1980) entre outros que respaldam nossos estudos.

Realizamos atividades como releituras de imagens nas representações expressos nos desenhos, na linguagem da dança, da música e atividades de leituras e escrita de textos como receitas e poesias. Exploramos conteúdos que ilustram a dança catira por meio da exibição de vídeos, como da dupla: Imãs Galvão.

Nos ensaios fizemos registros dos ricos momentos que posteriormente confirmaram o envolvimento das crianças na culminância do Projeto Cultura Pantaneira no Chão da Escola. Durante duas semanas e meia elas se propuseram a realizar as atividades de releitura que evidenciou a expressão corporal da dança assim como seus instrumentos e trajes, a viola de cocho, o violão, a botina, o chapéu, o homem a cavalo e o berrante. Om desenhos coloridos foram parar no varal para que todos da escola pudessem apreciar suas criações.

As crianças se concentravam nos ensaios e aprenderam os passos sem dificuldades, as batidas de pés e mãos da coreografia. Empenhados com a regionalidade na aquisição do saber na cultura pantaneira, os pais se mostraram presentes na escola ao decorrer do projeto. Sempre buscando contribuir com a vida escolar dos seus filhos apresentaram nos questionários os depoimentos carregados das vivências nas fazendas e algumas informações, informações dos mais velhos nas famílias.

Tudo aconteceu de forma muito espontânea nas participações das crianças  que em sua simplicidade apresentaram-se para a plateia, caracterizados com calça jeans, camisa xadrez, chapéu e botina. Não existe um traje único, porém os grupos de Catira costumam imitar a vestimenta dos vaqueiros. Segundo Lima (1954):

 

Para começar o Catira, o violeiro puxa o rasqueado e os dançadores fazem a “escova” isto é, um rápido bate pé, bate mão e seis pulos. A seguir o violeiro canta parte da moda, e volta ao rasqueado […] Quando encerra a moda, os dançadores após bate pé e bate mão, realizam a figura que se denomina “Serra a cima”, na qual dançam uns atraz dos outros, da esquerda para a direita, batendo os pés e as mãos. (LIMA, 1954).

 

Existem diversas maneiras de se dançar a catira, utilizamos desta citada por Lima por ser a mais usada. Os alunos realizaram uma dança parecida, eles se colocaram um de frente para o outro, tendo um tablado como palco, conforme a letra, o ritmo e melodia da música e da viola foram fazendo os passos e a escova.

O evento, contou com a presença da pesquisadora e autora Marlei Sigrist, que veio pessoalmente assistir as apresentações da escola na culminância da proposta. Suas contribuições ficaram registradas pela sua obra “Chão batido: a cultura popular de Mato Grosso do Sul, folclore, tradição”.  A professora Marlei, filmou e fotografou todas as apresentações, visitou as salas onde estavam sendo expostos os trabalhos das crianças. Agradecida com a homenagem prestada, despediu-se emocionada com as produções.

 

 

Particularidades da culinária na cultura: O arroz carreteiro, comida típica regional

 

O arroz carreteiro esta presente na cultura do povo aquidauanense como esta para o boiadeiro. Dizem os mais antigos, que a comida surgiu da necessidade de conservar alimentos durante as longas viagens das comitivas em meio as cheias que inundam o pantanal. “Arroz carreteiro – Entre os variados pratos, feito com arroz, o carreteiro é o mais usado, utilizando-se carne seca picadinha e frita, cozida junta com arroz“. (SIGRIST, 2000, p.119). A antiga tradição de preparar a carne salgando-a para manter o sabor e conservar uniu-se ao arroz, fácil e pratico no preparo.

Junto às professoras trabalhamos produção de textos nas receitas mais conhecidas da gastronomia pantaneira e, com a participação dos alunos fizemos esse prato típico. Inicialmente, o arroz carreteiro foi preparado num fogão à lenha que a própria professora trouxe de casa. Passo a passo foi observado pelas crianças que saborearam um lanche diferente, com sabor de casa, tendo em vista que o prato não é novidade para os mesmos.

A comitiva pantaneira foi convidada para abrilhantar ainda mais nossa festa, vieram e trouxeram o berrante, pois, além de oferecerem o carreteiro quentinho, feito ali mesmo, contribuíram tocando berrante durante as apresentações. A figura do cozinheiro na comitiva continua relevante como antigamente, na travessia do gado durante as vazantes. Dos estudos que fizemos Nogueira 2002 nos diz que:

 

Reservam-se lhe as incumbências de conduzir os cargueiros, de preparar a comida, nas sesteadas e nos pousos ou paradeiros, e, ainda, a responsabilidade com as traias dos componentes da comitiva, bem como as traias de cozinha. É ele que carrega o dinheiro, os documentos, enfim, a bagagem do pessoal. O vaqueiro só fica com a capa na garupa  (NOGUEIRA, p.109).

 

Assim, podemos dizer que o cozinheiro é quem comanda a comitiva, definida a partida com a boiada o cozinheiro segue na frente junto a tropa, chegando sempre primeiro para armar o pouso e preparar a bóia ( na linguagem do homem pantaneiro, bóia significa comida).

 

Considerações finais

 

Os resultados nos apontam que a proposta despertou interesse nos alunos ao desenvolverem as releituras das imagens na representação da dança Catira. As ações do PIBID foram um pouco além das representações que a vasta cultura Pantaneira dispõe, conseguimos integrar conhecimentos da vida urbana e rural.

Salientando tudo o que já foi mencionado reiteramos acreditando que o resgate da cultura local foi marcante nas ações desenvolvidas no chão da escola para nossa formação docente. Uma valiosa viagem de volta às raízes e para quem não nasceu, mas mora no Mato Grosso do Sul, conhecer um pouco da ampla cultura local.

Vemos todos os dias um pouco da fauna e da flora aqui mesmo na cidade de Aquidauana, porém, não paramos para contemplar quão maravilhosa elas são. O projeto nos instigou a pesquisar cada vez mais e dessa forma ressignificar a realidade local considerando o conhecimento de senso comum de cada criança.

Em virtude das atividades propostas conseguimos observar melhor a realidade de cada um e chegamos à conclusão que muitas das nossas crianças desconheciam suas raízes, com o projeto puderam perceber-se na sociedade onde estão inseridos.

Consideramos a realidade das crianças que moram nas fazendas da região e vem para a escola estudar todos os dias. Constatamos que muitas desconhecem a riqueza cultural em seus vários aspectos, tem sido uma viagem prazerosa para todos os envolvidos.

 

Referências

BORGES, C. M. O povo brasileiro e a catira. EF Deportes- Revista Digital – n. 139, dez. 2009. Disponível em: <http://www.efdeportes.com/efd139/o-povo-brasileiro-e-a-catira.htm>. Acesso em: 06/10/2017.

LIMA, Rossini Tavares de. Melodia e Ritmo no Folclore de São Paulo. Editora Ricordi, 1954.

NOGUEIRA, Albana Xavier. Pantanal: Homem e Cultura. Campo Grande. UFMS, 2002.

SIGRIST, Marlei. Chão Batido: A cultura popular de Mato Grosso do Sul. Folclore, Tradição. Campo Grande: UFMS, 2000.

VOGT, C. & GNERRE, M. A comunidade do Cafundó. 1980, p.267.